
Todos nós já vivemos os nossos lutos, as nossas perdas e despedidas ao longo da nossa vida estando ou não preparados para lidar com todas as emoções associadas a esses processos, querendo ou não lidar com essas emoções no tempo certo ou num outro tempo onde pensamos que estamos mais preparados para lidar e aceitar cada situação vivida. Vivemos lutos diariamente não só associados à morte de alguém, mas também associado à morte de algo no nosso ser, sejam emoções, pensamentos, sonhos, assim também nos despedimos diariamente de alguém e de algo da nossa vida que nos leva a precisar de refletir em todos os processos de perda para que possamos os viver de um modo mais saudável e equilibrado.
No que diz respeito ao papel a Escrita Terapêutica no desenvolvimento dos processos reflexivos sobre os nossos lutos, posso afirmar que se torna muito importante quando escrevemos sobre os nossos lutos, perdas e despedidas, quando os identificamos de modo a que possam ser acolhidos, aceites, compreendidos e claro está, ultrapassados. Ao escrever sobre os nossos lutos, perdas e despedidas estamos a reconhecer a sua existência e a tentar desenrolar o novelo que os mesmos criam nos nossos sentimentos e emoções, impedindo-nos de viver a vida e de permitir que algo novo floresça no nosso viver.
Um dos primeiros exercícios de escrita que posso sugerir é a elaboração da Lista de Lutos, onde se identificam todos os lutos que vivemos e estamos a viver neste momento sejam eles relacionados com pessoas, com situações específicas, com emoções, com relações, ou seja, com tudo aquilo que nos faz viver um processo de luto e sobre o qual nos temos que despedir, não para esquecer, mas para aceitar que tem que haver um fim para haver um novo começo e se ficarmos eternamente presos aos nossos lutos, não nos vamos permitir crescer, evoluir e iniciar novos processos, com novas emoções e com mais vida.
Para preencher a Lista dos Lutos podemos escrever as nossas perdas como por exemplo, um despedimento laboral, o fim de uma relação, a morte de alguém, o diagnóstico de doença crónica, a despedida de alguém que vamos deixar de ver durante algum tempo, algum sonho que deixamos morrer porque não lutámos por ele ou desistimos, a perda da nossa imagem corporal por algum trauma/acidente/doença, entre tantas outras perdas que são vividas por todos nós.
Agora que temos a nossa lista com alguns exemplos dos nossos lutos podemos continuar a utilizar a Escrita Terapêutica para refletir sobre cada um deles individualmente. Um dos exercícios de mais utilizo para trabalhar os lutos são as cartas, a Carta de Perda e a Carta de Luto, que têm como objetivo escrever sobre todo o processo de perda e também sobre todo o processo de vida para que seja valorizado cada instante do que foi vivido além da perda, para que seja possível ter um vislumbre do que estamos a viver agora e sobre como queremos viver num futuro após vivermos saudavelmente a gestão das nossas emoções.
A Carta de Perda pode ser utilizada para lidar com as perdas para a Vida, ou seja, para escrever sobre todas as perdas que não estejam relacionadas com a morte física, sendo que um dos casos em que pode ser utilizada é no fim de uma relação, seja qual for o seu grau de intimidade. Para elaborar essa carta começamos por nos dirigir à pessoa de que nos estamos a despedir enaltecendo tudo o que foi vivido com ela realçando cada emoção, cada sentimento durante o tempo que se viveu em comum, só depois passamos para a escrita do processo de perda em si onde assumimos tudo o que sentimos, tal como nos sentimos sem filtrar e nem utilizar qualquer juízo de valor sobre o que foi sentido, terminando a carta a dizer como nos sentimos no momento atual e como nos vemos num tempo futuro depois de lidar com essa perda.
A Carta de Luto pode ser utilizada para lidar com as perdas por morte física de alguém seja qual for o tempo em que essa morte tenha acontecido. Para elaborar essa carta começamos por nos dirigir à pessoa de que nos estamos a despedir enaltecendo tudo o que foi vivido com ela, realçando cada emoção, cada sentimento durante o tempo que se viveu em comum, só depois passamos para a escrita do processo de luto em si, onde assumimos tudo o que sentimos, tal como nos sentimos sem filtrar e nem utilizar qualquer juízo de valor sobre o que foi sentido, terminando a carta a dizer como nos sentimos no momento atual e como nos vemos num tempo futuro depois de lidar com essa morte.
Vivermos os nossos lutos, escrevendo sobre eles, ajudam a aceitar que a vida é feita de ciclos que terminam e outros que começam, onde precisamos de nos desapegar do que se perdeu para estarmos dispostos a receber o que poderá chegar, sendo que no caso da morte de alguém, fazer as pazes com esse processo implica assumir que o Amor é o elo universal que perpetua a presença de alguém na nossa Vida, mesmo que a dor da sua ausência física seja enorme, pois só morre em nós quem nós permitimos que morra.
Ricardo Fonseca