
“NÃO TEMOS AMADO, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos tememos que sejam armadilhas. […]
NÃO temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Não temos adorado a Deus por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
NÃO temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer ‘pelo menos não fui tolo’ e assim não chorarmos antes de apagar a luz. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E mesmo assim, consideramos tudo isso a vitória nossa de cada dia.” CLARICE LISPECTOR, trecho da crônica “Vitória Nossa”.
Grata de coração
Clarice